sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Exposição de instalações site-specific


Exposição de instalações site-specific

Sete Olhares a Monte

Tomar | Mata Nacional dos Sete Montes

22 e 23 de Setembro de 2007

Horário 9h-18h

Curadoria Carolina Rito


Percursos interrompidos

“Tomem muita atenção ao contexto. A todos os contextos. Ao que é permitido, ao que é interdito, ao que se esconde e ao que é posto em relevo.”[1] (Daniel Buren)

Se a criação é sempre um olhar sobre e para o mundo, é na relação com o seu contexto específico que a sua expressão se completa, se torna mais sincera. É nos lugares concretos da sua fundação que o agente artístico e a sua acção se colocam em presença. Como escreveu Paul Ardenne, o artista é “um corpo em presença de outros corpos, sempre interessado no estabelecimento de uma relação directa [com o seu contexto]”[2].

O artista define, assim, um movimento de aproximação ao mundo concreto, à realidade. O fazer artístico não se limita a importar o mundo para o seu interior, ele inscreve-se na exterioridade do próprio mundo, onde a vida acontece, onde a partilha se intensifica. Define-se por isso um movimento activo, de reflexão e relação constante com as dinâmicas do lugar.

As formas que agora habitam a Mata Nacional dos Sete Montes denunciam exactamente essa presença. O corpo do artista, agora ausente, delega nas estruturas reificadas o mote para as novas leituras do lugar. As instalações reivindicam a atenção dos visitantes. Estabelece-se, entre este e a obra, a relação que as prolonga nas múltiplas e verosímeis interpretações. É neste momento que o mundo se estende. Os lugares, de alguns já bastante conhecidos, redimensionam-se e redescobrem-se no olhar do visitante.

O trabalho realizado pelo artista Nelson Melo, instalado na entrada principal da Mata, invoca a participação do visitante que no seu percurso interferirá, voluntária ou involuntariamente, nos feixes lumínicos projectados na densa e escura vegetação. Ao colocar o espectador, literalmente, no centro da própria obra, o artista reforça a sua importância. A participação do espectador não se reduz ao carácter performativo da peça, mas estende-se no momento intensificado que se estabelece entre o objecto/performance e o indivíduo.

Também os trabalhos apresentados por Bruno Marques e Mark Aragão convocam sensorialmente o espectador, interrompendo o seu percurso, delineando novas leituras e relações com o espaço.

Por outro lado, a instalação sonora de Aragão e a escultura de Cláudio Sousa, apesar de terem concretizações bastante diferentes, convocam a imaginação do observador que perante o mote lançado pelos trabalhos constrói o ambiente e imagina o seu desfecho.

O espaço natural da Mata funciona como uma possível amostra do mundo, onde a vegetação e os elementos arquitectónicos, legado da presença dos Templários, representam o dinamismo da dimensão natural e, simultaneamente, a acção que o homem tem vindo a inscrever sobre ela.

A abordagem dos artistas Luís Simões e Rita Manuel vai exactamente ao encontro destas duas valências, o natural e o humano. No espaço devoluto do antigo Lagar da Cerca, estes artistas revelam, através de práticas culturais seculares, a interacção harmoniosa entre a acção humana e as potencialidades da natureza. A presença intensa do Acanto em torno do Lagar prolonga a leitura do trabalho. A folha que inspirou a decoração dos capitéis coríntios na antiguidade clássica e que se encontra presente nos elementos decorativos no interior do Convento de Cristo, sintetiza a simbiose, presente no espírito do trabalho deste colectivo, entre natureza, arte e vida.

Carolina Rito

Caldas da Rainha, 2007


[1] Tradução livre da autora. « Je demande que l’on fasse bien attention au contexte. À tous les contextes. À ce qu’ils permettent, ce qu’ils refusent, ce qu’ils cachent, ce qu’ils mettent en valeur. » Daniel Buren, À force de descendre dans la rue, l’art peut-il enfin y monter ?, Paris, Sens & Tonka, 1998, p. 86.

[2] Tradução livre da autora. ARDENNE, Paul, Un art contextuel, Flammarion, 2004, pp. 31 e 32.


Sinopse

A exposição Sete Olhares a Monte é composta por sete propostas artísticas que surgiram a partir de e para o lugar Mata Nacional dos Sete Montes. Após a visita atenta ao espaço, o envolvimento com o contexto específico e o contacto com as preexistências naturais e arquitectónicas da Mata, foram definidos espaços de intervenção, tais como: a Charolinha, a Alameda dos Freixos, a Fonte de Gruta, entre outros. Foi a partir desta relação com as dinâmicas naturais e vivenciais da Mata que se iniciou o processo criativo. Este envolvimento com o contexto é também visível através da preferência que alguns dos artistas dão aos materiais recolhidos no local para a realização dos seus trabalhos. Como por exemplo o trabalho realizado por Cláudio Sousa ou pelo colectivo Luis Simões e Rita Manuel.

Ao longo do percurso expositivo (mapa e informação adicional serão facultadas nos dias do evento, no parque de Lazer da referida Mata) as diferentes abordagens artísticas revelam-se, permitindo um novo olhar sobre lugares por muitos sobejamente conhecidos.

Neste movimento de reinvenção, artistas e visitantes demonstram a capacidade da arte redimensionar a vida. C.R.

Artistas

Bruno Marques

Cláudio Sousa

Jorge Maciel

Luis Simões e Rita Manuel

Mark Aragão

Nelson Melo

Nuno Bettencourt

Informação sobre as intervenções realizadas pelos artistas

Nelson Melo

1983, Paço de Sousa

E apesar disto, continuamos a girar!

Ferro, madeira, cartão, tinta e espelhos

Localização: Jardim Formal

As estruturas que interrompem a simetria do Jardim Formal foram concebidas por Nelson Melo, e propõem uma nova percepção do espaço. No entanto, a peça não se circunscreve aos limites físicos destas estruturas, ela estende-se em feixes de luz cuja direcção e permanência dependem do movimento de rotação da terra e do percurso definido pelo visitante no Jardim. C.R.

Bruno Marques

1981, Leiria

Abraçar…

Fita Elástica

Localização: Alameda dos Freixos

As linhas definem novas espacialidades, transpõem os seus limites e configuram movimentos que marcam novos itinerários. E se os percursos, fruto das nossas decisões, fossem visíveis? Se a terra guardasse a sua direcção? Se as relações que estabelecemos deixassem marcas físicas nos espaços? Bruno Marques questiona, assim, o conceito percurso como fonte de criação artística e, consequentemente, o seu valor escultórico na reconfiguração do espaço físico. C.R.

Mark Aragão

1984, Tomar

S/ título

Instalação sonora

Localização: Alameda dos Freixos

Um lugar não é só composto pela sua fisicalidade. Na atribuição do seu significado sobrepõem-se vários layers de entendimento, desde as significações culturais predefinidas aos valores afectivos individuais. Mark Aragão propõe um novo estímulo sensorial na percepção deste lugar… uma nova dinâmica vivencial. Quem é? C.R.


Jorge Maciel

1982, Viana do Castelo

S/ título

Madeira de pinho e pregos

Localização: Charolinha

Os elementos arquitectónicos da Charolinha contextualizam-na no tempo, século XVI, e inserem-na num estilo artístico, renascença. A viagem ao passado é assumida sem sobressaltos. No entanto, a acção do artista visa um novo movimento interpretativo. Fazendo-se valer do valor cénico da estrutura, apropria-se dela, deslocando-a para um tempo indefinido e proporciona uma experiência que pretende partilhar.

Nuno Bettencourt

1969, Paço d’Arcos

Instalação de esculturas enxertadas

Ferro

Localização: Fonta da Gruta

As copas das árvores definem complexas composições, enquanto ramos se intrincam e se misturam para se voltarem a redefinir num sopro mais forte de um vento de fora ou no aparecimento de novos traços que de madeira se estruturam. As linhas férricas no pensamento desenhadas avolumam-se para lá do preexistente. Acrescentam-se ao mundo. Somam-lhe contornos. C.R.

Cláudio Sousa

1976, Porto

23h29m

Cedro (da Mata) e ferro

Localização: Torre da Condessa

Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto. O artista dá o ponto no nó, o conto fica a cargo da imaginação. Da capacidade de reinventarmos o mundo em cada instante. De viajarmos na abstracção do Sonho. E, segundo o poeta, é nele que a obra nasce. C.R.


Luis Simões e Rita Manuel

1983, Caldas da Rainha

1980, Caldas da Rainha

As paredes ganham vida

Terra e fibras vegetais da Mata

Localização: Lagar da Cerca

A paisagem interior do Lagar é pautada pelas múltiplas marcas que se desenham na passagem do tempo e pelos vestígios das ferramentas agrícolas. Subsiste a memória do encontro entre os frutos da terra e o conhecimento adquirido do homem em extrair deles as suas riquezas. Uma simbiose entre o natural e o conhecimento que o homem lhe acrescenta; uma relação que, assim como o Lagar, se tem vindo a deteriorar; uma experiência que aqui se reencontra. C.R.



Contactos Carolina Rito

Telemóvel: 965563816

E-mail: carolinarito@gmail.com


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