Exposição de instalações site-specific
Sete Olhares a Monte
Tomar | Mata Nacional dos Sete Montes
22 e 23 de Setembro de 2007
Horário 9h-18h
Curadoria Carolina Rito
Percursos interrompidos
“Tomem muita atenção ao contexto. A todos os contextos. Ao que é permitido, ao que é interdito, ao que se esconde e ao que é posto em relevo.”[1] (Daniel Buren)
Se a criação é sempre um olhar sobre e para o mundo, é na relação com o seu contexto específico que a sua expressão se completa, se torna mais sincera. É nos lugares concretos da sua fundação que o agente artístico e a sua acção se colocam
O artista define, assim, um movimento de aproximação ao mundo concreto, à realidade. O fazer artístico não se limita a importar o mundo para o seu interior, ele inscreve-se na exterioridade do próprio mundo, onde a vida acontece, onde a partilha se intensifica. Define-se por isso um movimento activo, de reflexão e relação constante com as dinâmicas do lugar.
As formas que agora habitam a Mata Nacional dos Sete Montes denunciam exactamente essa presença. O corpo do artista, agora ausente, delega nas estruturas reificadas o mote para as novas leituras do lugar. As instalações reivindicam a atenção dos visitantes. Estabelece-se, entre este e a obra, a relação que as prolonga nas múltiplas e verosímeis interpretações. É neste momento que o mundo se estende. Os lugares, de alguns já bastante conhecidos, redimensionam-se e redescobrem-se no olhar do visitante.
O trabalho realizado pelo artista
Também os trabalhos apresentados por
Por outro lado, a instalação sonora de Aragão e a escultura de Cláudio Sousa, apesar de terem concretizações bastante diferentes, convocam a imaginação do observador que perante o mote lançado pelos trabalhos constrói o ambiente e imagina o seu desfecho.
O espaço natural da Mata funciona como uma possível amostra do mundo, onde a vegetação e os elementos arquitectónicos, legado da presença dos Templários, representam o dinamismo da dimensão natural e, simultaneamente, a acção que o homem tem vindo a inscrever sobre ela.
A abordagem dos artistas
Carolina Rito
Caldas da Rainha, 2007
[1] Tradução livre da autora. « Je demande que l’on fasse bien attention au contexte. À tous les contextes. À ce qu’ils permettent, ce qu’ils refusent, ce qu’ils cachent, ce qu’ils mettent en valeur. » Daniel Buren, À force de descendre dans la rue, l’art peut-il enfin y monter ?, Paris, Sens & Tonka, 1998, p. 86.
[2] Tradução livre da autora. ARDENNE, Paul, Un art contextuel, Flammarion, 2004, pp. 31 e 32.
Sinopse
A exposição Sete Olhares a Monte é composta por sete propostas artísticas que surgiram a partir de e para o lugar Mata Nacional dos Sete Montes. Após a visita atenta ao espaço, o envolvimento com o contexto específico e o contacto com as preexistências naturais e arquitectónicas da Mata, foram definidos espaços de intervenção, tais como: a Charolinha, a Alameda dos Freixos, a Fonte de Gruta, entre outros. Foi a partir desta relação com as dinâmicas naturais e vivenciais da Mata que se iniciou o processo criativo. Este envolvimento com o contexto é também visível através da preferência que alguns dos artistas dão aos materiais recolhidos no local para a realização dos seus trabalhos. Como por exemplo o trabalho realizado por Cláudio Sousa ou pelo colectivo Luis Simões e Rita Manuel.
Ao longo do percurso expositivo (mapa e informação adicional serão facultadas nos dias do evento, no parque de Lazer da referida Mata) as diferentes abordagens artísticas revelam-se, permitindo um novo olhar sobre lugares por muitos sobejamente conhecidos.
Neste movimento de reinvenção, artistas e visitantes demonstram a capacidade da arte redimensionar a vida. C.R.
Artistas
Cláudio Sousa
Luis Simões e
Mark Aragão
Informação sobre as intervenções realizadas pelos artistas
1983, Paço de Sousa
E apesar disto, continuamos a girar!
Ferro, madeira, cartão, tinta e espelhos
Localização: Jardim Formal
As estruturas que interrompem a simetria do Jardim Formal foram concebidas por
1981, Leiria
Abraçar…
Fita Elástica
Localização: Alameda dos Freixos
As linhas definem novas espacialidades, transpõem os seus limites e configuram movimentos que marcam novos itinerários. E se os percursos, fruto das nossas decisões, fossem visíveis? Se a terra guardasse a sua direcção? Se as relações que estabelecemos deixassem marcas físicas nos espaços?
Mark Aragão
1984, Tomar
S/ título
Instalação sonora
Localização: Alameda dos Freixos
Um lugar não é só composto pela sua fisicalidade. Na atribuição do seu significado sobrepõem-se vários layers de entendimento, desde as significações culturais predefinidas aos valores afectivos individuais. Mark Aragão propõe um novo estímulo sensorial na percepção deste lugar… uma nova dinâmica vivencial. Quem é? C.R.
1982, Viana do Castelo
S/ título
Madeira de pinho e pregos
Localização: Charolinha
Os elementos arquitectónicos da Charolinha contextualizam-na no tempo, século XVI, e inserem-na num estilo artístico, renascença. A viagem ao passado é assumida sem sobressaltos. No entanto, a acção do artista visa um novo movimento interpretativo. Fazendo-se valer do valor cénico da estrutura, apropria-se dela, deslocando-a para um tempo indefinido e proporciona uma experiência que pretende partilhar.
1969, Paço d’Arcos
Instalação de esculturas enxertadas
Ferro
Localização: Fonta da Gruta
As copas das árvores definem complexas composições, enquanto ramos se intrincam e se misturam para se voltarem a redefinir num sopro mais forte de um vento de fora ou no aparecimento de novos traços que de madeira se estruturam. As linhas férricas no pensamento desenhadas avolumam-se para lá do preexistente. Acrescentam-se ao mundo. Somam-lhe contornos. C.R.
Cláudio Sousa
1976, Porto
23h29m
Cedro (da Mata) e ferro
Localização: Torre da Condessa
Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto. O artista dá o ponto no nó, o conto fica a cargo da imaginação. Da capacidade de reinventarmos o mundo em cada instante. De viajarmos na abstracção do Sonho. E, segundo o poeta, é nele que a obra nasce. C.R.
1983, Caldas da Rainha
1980, Caldas da Rainha
As paredes ganham vida
Terra e fibras vegetais da Mata
Localização: Lagar da Cerca
A paisagem interior do Lagar é pautada pelas múltiplas marcas que se desenham na passagem do tempo e pelos vestígios das ferramentas agrícolas. Subsiste a memória do encontro entre os frutos da terra e o conhecimento adquirido do homem em extrair deles as suas riquezas. Uma simbiose entre o natural e o conhecimento que o homem lhe acrescenta; uma relação que, assim como o Lagar, se tem vindo a deteriorar; uma experiência que aqui se reencontra. C.R.
Contactos Carolina Rito
Telemóvel: 965563816
E-mail: carolinarito@gmail.com
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